Nesta matéria queremos parabenizar nossa cidade, Cuiabá, que completa no próximo dia 8 de abril 294 anos.
Nós que moramos aqui, seja cuiabano de “Tchapa e Cruz”, ou “Pau Rodado” como diziam antigamente, nos orgulhamos desta terra que tanto tem a oferecer.
E é esta coleção de culturas, povos, costumes, pontos turísticos e gastronomia tradicional que vamos homenagear.
Aficionados do colecionismo vão concordar que Cuiabá é uma grande coleção.
Personagens cuiabanos
Preta, Zé Peteté, General Saco, Maria Taquara, Zé Boloflô e Ezequiel dos Cachorros.
Lembro-me do sentimento de curiosidade e medo que eles despertavam, especialmente, nas crianças. Mas não é exatamente dessa galeria de tipos que vou discorrer hoje. Falo da ausência deles. E me atrevo a dizer que quando uma cidade vai perdendo seu aspecto provinciano, à caminho de tornar-se uma metrópole, perde um pouco essa nuance humana. Ganha impessoalidade e cresce, concretamente falando. Mas vai deixando de ser aquele sítio, aquele lugar, onde o humano, demasiado humano está sempre presente.
Compilei abaixo uma matéria que fala de alguns destes personagens, para relembrar ou até mesmo para conhecer quem foram.
Na grande maioria das cidades do Brasil há avenidas, ruas, praças ou parques com nomes como Brasil, Getúlio Vargas, Marechal Floriano Peixoto e Juscelino Kubitschek. Mas como surgem os nomes desses lugares? O Secretário Adjunto de Cultura do Município, Moisés Martins conta que os logradouros são nomeados, geralmente, para homenagear pessoas que tiveram importância para o país, como no caso dos ex-presidentes e, em âmbito regional, figuras locais importantes ou que se destacaram de alguma forma na região.
Em Cuiabá há muitos lugares com nomes de ex-presidentes, ex-govenadores e figuras políticas que já fizeram ou ainda fazem parte do dia-a-dia da capital. Mas há locais que receberam nomes de figuras folclóricas e pitorescas da cultura mato-grossense, que são lembrados com nostalgia por moradores mais antigos. É o caso, por exemplo, do Parque Zé Bolo Flô, que tem esse nome em homenagem a uma das figuras mais conhecidas do folclore cuiabano.
Zé Bolo Flô
O geógrafo e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, Aníbal Alencastro, conta que Zé Bolo Flô viveu em Cuiabá em meados dos anos 60 e 70. Era um mendigo negro, pobre e muito simpático, que vagava pelas ruas da capital, usando uma bengalinha. Estava sempre na porta das igrejas e os padres, freqüentemente, o ajudavam. “Eu sempre o via sentado na calçada, alegre e cantando”, relata o geógrafo. Foi compositor, poeta e músico e fez sucesso na sociedade cuiabana, que sempre requisitava sua presença nas festas religiosas e nos carnavais realizados nas praças e ruas da cidade. Ele acompanhava os blocos e cordões que dançavam ao som da banda que a Prefeitura disponibilizava durante as festividades. Em seus últimos dias, Zé Bolo Flô viveu no hospital Adauto Botelho, onde sempre manteve uma atitude otimista, levando para lá a mesma alegria que contagiava os cuiabanos nas praças públicas.
Antônio Peteté
Outra figura muito lembrada por habitantes mais antigos da capital é Antônio Peteté. Assim como Zé Bolo Flô, Peteté também era negro e andarilho, andava mancando pelas ruas do centro de Cuiabá nos anos 50. De acordo com Alencastro, ele andava bem trajado e limpo, o que sugere que ele tinha um lugar para morar. Era afeminado e dizia que não gostava dos alunos de uma determinada escola da capital, porque não eram educados, mas gostava dos alunos de um outro colégio da cidade. Saía com estes alunos em desfiles pelas ruas de Cuiabá. Também participava de procissões e brincava com as crianças que encontrava no caminho. Era conhecido por não largar seu leque e também devido à fala engraçada, pois tinha a língua presa. “Era uma pessoa calma e simpática”, conta o geógrafo.
Maria Taquara
Maria Taquara também é uma personalidade bastante presente na memória dos cuiabanos. Segundo Aníbal Alencastro, ela era uma pessoa do povo, mas que fugia aos padrões da época. Era muito alta e magra, daí o apelido de Taquara. Trabalhava como lavadeira e andava pela cidade com uma mala para carregar as roupas dos clientes que moravam no centro. Maria Taquara morava em uma tapera atrás de um quartel e à noite, costumava receber visitas de soldados que estavam de plantão. De acordo com Aníbal, ela costumava dizer aos soldados que a chamavam de taquara: “De noite sou Maria meu bem, de dia sou Maria Taquara”. Não era uma pessoa simpática, bebia muito e fumava charutos e cigarros de palha. Foi a primeira mulher a usar calças compridas em Cuiabá.
Mãe Bonifácia
Uma das figuras históricas mais conhecidas do povo cuiabano é, com certeza, Mãe Bonifácia. Era uma escrava velha e doente e por não ser mais ativa, raramente era importunada. Morava em um barraco na frente de um quartel da cidade. Era conhecida como curandeira, devido ao seu conhecimento sobre ervas e era bastante procurada para fazer poções. No final do século XIX, quando ainda havia escravidão no Brasil, alguns negros escravos que pertenciam a senhores de Cuiabá, fugiam e tinham a ajuda de Mãe Bonifácia para se esconderem. Ela os ensinava a andar pelo córrego, para que os cães dos seus donos não conseguissem achar os rastros dos fugitivos. Os negros se escondiam na mata, onde hoje é o parque que leva o nome da senhora que os ajudou.
Quando digo coisas desse tipo, ou as escrevo, alguns dizem que sou saudosista. Acho que sim.
Se isso aqui fosse um roteiro para filme eu diria: corta para uma parada de ônibus, com um coletivo chegando. A mulher entrou pela porta da frente, e o marido entrou pela porta dos fundos, aquela que privilegia com justiça os idosos. A mulher só não entrou por lá também, porque não quis. Na verdade ele deve beirar ou passar de uns 80.
O marido logo se acomodou lá atrás. Sentou-se. Ela não. Preferiu tocar a viagem em pé. Olhando para os lados e para trás, sempre dando pinta de que ia dizer algo. E disse: “Onde fica o programa do Roberto França...”, indagou. E pôs-se a reclamar da alteração do itinerário do ônibus, que havia mudado. Por fim, ela olhou para o marido lá no fundão do ônibus e soltou esta preciosidade num cuiabanês famigerado: “Os cachorro fico pra dentro, ou pra fora...”.
O linguajar cuiabano é digoreste
Com o passar dos anos, diferentes culturas vieram para a capital mato-grossense junto com seus emigrantes de outros Estados e uma delas é o linguajar, que aos poucos vem se misturando com o de Cuiabá.
Siminino, Nhá cá chás criança, tchapa e cruz, vôte, demás de quente são algumas das poucas palavras que até hoje escutamos pelas ruas de Cuiabá, independente se seja na região central ou ribeirinha da cidade.
Redes: Muito coloridas com inspiração na fauna e na flora. Têm como origem as tribos indígenas da região. São confeccionadas em teares verticais, com trabalho essencialmente artesanal e podem levar até três meses para ficar prontas.
Viola-de-cocho: Instrumento artesanal utilizado no acompanhamento do Siriri e Cururu, danças populares do Estado. A viola-de-cocho pode ser produzida com vários tipos de madeiras da região e suas cordas, originalmente de tripa de macaco, atualmente podem ser de nylon.
Cerâmica: A cerâmica, também influência indígena, é utilizada para fabricar diversos utensílios (panelas, potes, vasos, moringas) como também objetos de decoração e imagens religiosas.
Folclore: O folclore da baixada cuiabana está representada principalmente pelo Cururu, Siriri, Dança de São Gonçalo e Raqueado. O Cururu é composto por homens que dançam em roda. O Siriri é cantando e dançado por homens, mulheres e crianças. Na Dança de São Gonçalo, os cururueiros representam o santo "violeiro" carregando uma viola-de-cocho. O Rasqueado mato-grossense tem origem na mistura da Polca Paraguaia com o Cururu e o Siriri. Todas estas danças são acompanhadas pela viola-de-cocho, o mocho e o ganzá.
Atividades ao Ar Livre
Zoológico de Cuiabá
Único zoológico do país instalado numa universidade, o Zoológico da Universidade Federal de Mato Grosso é uma área que abriga belíssimos animais do Pantanal para estudos e pesquisas. Referência no estado, do ponto de vista turístico, ambiental e de pesquisa, o zoológico conserva grande parte das espécies ameaçadas de extinção, criando ambientes que reproduzem o seu habitat natural. São cerca de 469 animais, incluindo mamíferos, répteis e aves de três ecossistemas regionais: Amazônia, Cerrado e Pantanal. Como local de preservação das espécies, o zoológico possui animais que são reproduzidos em cativeiro, como o macaco-aranha, o lobo-guará e a onça-parda, sendo, inclusive, o único zoológico do Brasil a reproduzir o jacaré albino. Milhares de pessoas visitam o local toda semana, dentre turistas, estudantes, pesquisadores e a comunidade em geral.
Horto Florestal de Cuiabá
Localizado às margens do rio Coxipó, o Horto Florestal de Cuiabá abriga uma variedade de mais de 150 espécies botânicas, além de exemplares de animais silvestres. Conhecido como Parque Tote Garcia, o Horto Florestal é composto por dois tipos principais de vegetação: o cerrado e a mata ciliar. O cerrado apresenta características florestais de alta densidade, com uma vegetação que chega a atingir até 14 metros de altura, enquanto a mata ciliar se estende ao longo do rio Coxipó, sendo transposta por cinco belas pontes de madeira. Dentre os animais silvestres estão o sagui, a cotia, a capivara, o caxinguelê - um tipo de esquilo do cerrado -, entre outros. Além da apreciação da flora local, o Horto Florestal também oferece trilhas ecológicas e áreas de lazer, onde é possível contemplar a rica natureza sentado sobre aconchegantes bancos de madeira.
Morro da Luz
Considerado pulmão da cidade de Cuiabá, o Morro da Luz é uma extensa área verde urbanizada, com belos jardins e espaços para lazer. Conhecida como importante marco histórico da cidade, o Morro da Luz está diretamente relacionado à sua fundação. Historiadores contam que o bandeirante Miguel Sutil tornou-se o primeiro homem branco a pisar no morro, que na época ficou conhecido como Lavras do Sutil, devido à grande quantidade de pepitas de ouro encontradas no local. O Morro da Luz abriga uma escadaria que já foi considerada cartão-postal de Cuiabá, com aproximadamente 115 degraus que conduzem ao lado mais elevado da colina. No seu agradável espaço é possível contemplar a vegetação do cerrado, além de apreciar as praças e caminhar por suas pequenas trilhas.
Cultura e História
Igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito
Considerada um dos marcos de fundação de Cuiabá, a Igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito constituiu o primeiro núcleo habitacional da cidade. Conhecida como a mais antiga igreja de Cuiabá, sua construção foi tombada pelo IPHAN como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, mantendo até hoje suas características originais. Sua fachada simples é típica da arquitetura colonial brasileira, com interior em estilo barroco-rococó e altar-mor em ricas talhas douradas, considerada única no país. Nos altares laterais encontram-se, ao lado direito, uma imagem de Nossa Senhora do Carmo e, ao lado esquerdo, uma imagem de São Benedito. A igreja é cenário de uma das mais longas e concorridas festas religiosas do estado, a Festa de São Benedito, cujos devotos saem às ruas com bandeiras e bandas de música em época de festejos.
Casa do Artesão
Com uma bela mostra da cultura mato-grossense, a Casa do Artesão é o local de exposição do rico artesanato de Mato Grosso, além de expor o artesanato indígena de tribos da região. Com salas que apresentam diferentes segmentos, a Casa do Artesão tem como destaque o artesanato em madeira, com bonitas peças esculpidas, marchetadas e trabalhos em cipó e fibra de tucumã. Na sala de tecelagem observam-se lindas redes tecidas à mão, com fascinantes desenhos multicoloridos, além de xales, caminhos de mesa e tapetes. Outras mostras exibem variadas peças de decoração e utilitários em cerâmica, modelados de forma primitiva, e o melhor do trabalho indígena, elaborado com a valiosa gama de sementes da região. No local é possível comprar souvenirs, além de deliciosos doces e compotas feitas por doceiras regionais.
Centro Cultural Casa Cuiabana
Belíssima construção colonial, a Casa Cuiabana é um dos mais expressivos exemplares arquitetônicos de Cuiabá do século XVIII. Construída em taipa e adobe - técnicas de construção em terra -, sobre alicerces em pedra canga, a Casa Cuiabana abriga um detalhe bastante interessante: a conservação de um quintal cuiabano tradicional, retratando as antigas residências cuiabanas. O importante espaço cultural é voltado para a promoção de inúmeras atividades e eventos regionais, como o resgate das tradições religiosas cuiabanas, a divulgação e preservação de seus costumes alimentares e datas comemorativas. O local conta ainda com teatro de arena a magníficas exposições de artes.
Museu de Artes Sacras
Instalado no Seminário da Conceição, o Museu de Artes Sacras de Cuiabá é um dos principais espaços de preservação da memória mato-grossense. Conhecido como um dos mais belos espaços culturais de Mato Grosso, o museu abriga um importante patrimônio histórico, com um acervo que constitui o maior conjunto de artes nos estilos barroco, rococó e neoclássico de todo o estado. Dentre as peças do acervo destacam-se objetos pertencentes à Dom Francisco de Aquino Corrêa, cuiabano, membro da Academia Brasileira de Letras, considerado o Príncipe da Letra Mato-Grossense e um dos maiores oradores do Brasil. O Museu de Artes Sacras de Cuiabá oferece ainda valiosas exposições, além das históricas peças de seu acervo.
Outros Atrativos
- Aquário Municipal
- Centro Geodésico da América do Sul
- Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho
- Museu das Bonecas e Brinquedos
- Museu de Pedras Ramis Bucair
- Museu do Índio
- Museu Histórico de Mato-Grosso
- Palácio da Instrução
- Parque Estadual Mãe Bonifácia
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